às vezes vivemos vidas que não nos pertencem, que não são nossas, na qual julgamos ser as protagonistas, mas que afinal de contas não passamos de espectadores duma realidade que desconhecemos, que não sabemos sequer como lidar.
O último ano foi o ANO, deixei trabalho, casa, familia, amigos, deixei o meu país, deixei tudo o que conhecia, tudo o que sou, porque acreditei que estava na hora de apostar em mim, de apostar em nós, de dar um novo passo numa relação que 15 anos amadureceram. Pela frente tive um caminho duro, de adaptação, de novidade, pensei muitas vezes que não o conseguia fazer, mas o tempo demonstrou-me que estava errada, abri os braços e dei-me a esta aventura, a este novo começo, e a partir desse momento as coisas foram acontecendo.
Quando o fim do ano chegou foi a altura de sentar na mesa e reformular objectivos e de fazer a preparação para mais um ano, nessa altura percebi que o jogo não estava todo em cima da mesa, percebi que faltavam cartas, ainda pensei que talvez fosse paranóia e como tal resolvi que não adiaria mais a minha viagem a Portugal, que estava na hora de partir, de estar comigo e com os meus pensamentos. Dez dias foram mais que suficientes para me encontrar, de volta à realidade e nem uma semana depois tenho as respostas a todas as minhas perguntas.
A vida colocou-me à prova, está a testar-me, está a medir forças comigo e eu estou a deixar-me levar, estou a render-me... sei e acredito que toda esta tempestade vai passar, que me vou levantar de novo, que o tempo cura tudo, mas o processo que está apenas a começar está a ser mais doloroso que alguma vez pensei.
Falo hoje sobre isto porque sinto uma necessidade muito grande de o fazer, não espero compaixão, risos, ironia ou pena de ninguém, não espero nada, escrevo apenas porque a vontade de o fazer é maior que qualquer outra coisa. Talvez amanhã apague, quando sentir que não faz mais sentido, que não quero recordar, mas hoje, hoje não...